Enquanto os operadores continuam a anunciar coberturas de fibra ótica e velocidades de 5G, uma revolução silenciosa está a acontecer nos bastidores da conectividade portuguesa. Não se trata apenas de mais megabits ou menor latência, mas de uma transformação estrutural que promete redefinir o que significa estar ligado.
Nas redações dos principais jornais, desde o JN ao Observador, passando pelo Público e DN, os temas tecnológicos têm ganho espaço, mas raramente se fala do que vem a seguir. A Tek Sapo e o Expresso abordam pontualmente inovações, mas falta uma visão integrada sobre como Portugal se está a preparar para a próxima geração de redes.
A verdade é que os satélites de baixa órbita, como os da Starlink, já estão a operar no país, oferecendo uma alternativa real em zonas rurais onde a fibra ainda é uma miragem. Esta não é apenas mais uma opção de internet; é um desafio direto ao modelo tradicional de infraestruturas, que depende de pesados investimentos em cabos e postes.
Paralelamente, as redes mesh comunitárias começam a surgir em bairros de Lisboa e Porto, criadas por vizinhos que partilham a sua ligação para criar uma rede local robusta. Estas iniciativas, ainda pequenas, questionam a lógica centralizada dos grandes operadores e apontam para um futuro mais distribuído e resiliente.
O 5G, tão falado, esconde uma realidade mais complexa: a sua implementação está longe de ser uniforme. Enquanto nos centros urbanos as experiências são promissoras, nas periferias e no interior a cobertura é irregular. E o verdadeiro potencial do 5G – a internet das coisas em escala massiva, as cidades inteligentes, a telemedicina de precisão – continua maioritariamente no papel.
A segurança cibernética é outro capítulo subestimado. Com mais dispositivos ligados, a superfície de ataque aumenta exponencialmente. As recentes falhas em routers domésticos, reportadas pela imprensa especializada, são apenas a ponta do icebergue de vulnerabilidades que podem comprometer não apenas dados pessoais, mas infraestruturas críticas.
A sustentabilidade entra finalmente na equação. Os data centers consomem quantidades astronómicas de energia, e a expansão das redes não pode ignorar a pegada ambiental. Soluções como o arrefecimento natural em instalações no norte do país ou a utilização de energias renováveis começam a ganhar tração, mas ainda são exceções.
O que falta, então, para Portugal dar o salto? Primeiro, uma estratégia clara que vá além dos planos nacionais genéricos. É necessário mapear as reais necessidades de cada região, envolvendo autarquias, empresas e cidadãos no desenho das soluções. Segundo, regulamentação ágil que incentive a inovação sem comprometer a segurança ou a concorrência.
Finalmente, é essencial educar os utilizadores. A maioria dos portugueses ainda escolhe pacotes com base no preço ou na velocidade prometida, sem compreender as implicações em termos de privacidade, segurança ou mesmo adequação às suas necessidades reais. Uma população informada é o melhor motor para exigir serviços de qualidade.
O futuro da conectividade em Portugal não se escreverá apenas nas sedes dos operadores ou nos gabinetes do governo. Está a ser desenhado nas comunidades que montam as suas próprias redes, nas startups que desenvolvem soluções para problemas locais, e na capacidade coletiva de imaginar um país verdadeiramente ligado – não apenas por cabos e ondas, mas por uma visão partilhada de progresso.
O futuro da conectividade em Portugal: além da fibra e do 5G