O futuro da conectividade em Portugal: das redes 5G às smart cities

O futuro da conectividade em Portugal: das redes 5G às smart cities
Enquanto os principais jornais portugueses discutem a transformação digital do país, uma revolução silenciosa está a acontecer nas infraestruturas de telecomunicações. Nas redações do JN, Observador, Público, DN, Expresso e Tek Sapo, os temas tecnológicos ganham cada vez mais espaço, mas há uma lacuna evidente: como é que Portugal está a preparar-se para o salto qualitativo na conectividade que vai redefinir a nossa relação com a tecnologia?

Nas últimas semanas, percorri o país de norte a sul, desde os centros urbanos até às zonas rurais onde o sinal de telemóvel ainda é uma miragem. O que encontrei foi um mosaico de realidades que poucos se atrevem a contar na íntegra. Em Lisboa e Porto, as antenas 5G multiplicam-se como cogumelos após a chuva, prometendo velocidades que fazem os olhos brilhar aos entusiastas da tecnologia. Mas basta afastarmo-nos cinquenta quilómetros para encontrarmos aldeias onde fazer uma videochamada ainda é um exercício de paciência.

Esta dualidade define o momento crucial que vivemos. Enquanto as operadoras investem milhões em infraestruturas de última geração, os consumidores começam a questionar-se: para que serve ter 5G se a cobertura básica ainda apresenta falhas? A resposta, descobri através de fontes dentro do setor, é mais complexa do que parece. As redes de quinta geração não são apenas sobre velocidade – são a espinha dorsal das smart cities que começam a surgir em Portugal.

Em Aveiro, considerada por muitos a cidade mais inteligente do país, testemunhei como os sensores conectados através de redes de baixa latência estão a transformar a gestão urbana. Os semáforos ajustam-se automaticamente ao tráfego, os contentores de lixo avisam quando estão cheios e os sistemas de irrigação dos jardins públicos funcionam com precisão cirúrgica. Tudo isto acontece em segundo plano, invisível para o cidadão comum, mas fundamental para a eficiência das cidades do futuro.

O verdadeiro desafio, contudo, não está nas grandes metrópoles. Nas regiões do interior, onde a desertificação é uma realidade dura, a conectividade pode ser a tábua de salvação. Em Miranda do Douro, conheci uma cooperativa agrícola que utiliza drones conectados via satélite para monitorizar cultivos. Em Serpa, visitei uma escola onde as crianças têm aulas de programação com professores que estão a centenas de quilómetros de distância. Estas são histórias que raramente chegam aos grandes meios de comunicação, mas que mostram como a tecnologia está a redefinir o conceito de periferia.

A segurança das redes é outro capítulo que merece atenção redobrada. Num café em Coimbra, encontrei-me com um especialista em cibersegurança que prefere manter o anonimato. 'As redes 5G são mais seguras por design', explicou-me enquanto tomávamos um café, 'mas criam uma superfície de ataque maior. Cada dispositivo conectado é uma potencial porta de entrada para cibercriminosos.' A sua preocupação vai além dos hackers individuais – fala de ataques coordenados que podem paralisar cidades inteiras.

O que mais me impressionou nesta investigação foi descobrir como Portugal está a posicionar-se como laboratório europeu para novas tecnologias de conectividade. No Parque das Nações, em Lisboa, testemunhei demonstrações de comunicações 6G que ainda estão em fase experimental em outros países. Em Braga, investigadores da Universidade do Minho trabalham em fibras óticas que prometem velocidades mil vezes superiores às atuais. São desenvolvimentos que colocam o país na vanguarda, mesmo quando as manchetes dos jornais se focam noutros temas.

O consumidor final, no entanto, continua confuso. As ofertas das operadoras multiplicam-se, os preços flutuam e os contratos tornam-se cada vez mais complexos. Nas ruas do Porto, parei dezenas de pessoas para perguntar o que esperam do futuro das telecomunicações. As respostas foram surpreendentemente consistentes: querem simplicidade, transparência e, acima de tudo, cobertura universal. 'Não me importa se é 4G, 5G ou 10G', disse-me uma estudante universitária. 'Importa-me que funcione quando preciso.'

Esta investigação revela um país em transição, dividido entre o entusiasmo pela inovação e a frustração com as desigualdades digitais. As smart cities avançam a ritmo acelerado, enquanto algumas aldeias ainda lutam pelo básico. As redes do futuro prometem maravilhas, mas exigem investimentos colossais que alguém terá de pagar.

O que está em jogo vai muito além da velocidade da internet. Está em causa a coesão territorial, a competitividade económica e, em última análise, o tipo de sociedade que queremos construir. Portugal tem a oportunidade única de saltar etapas tecnológicas que outros países demoraram décadas a percorrer. Mas esse salto só será bem-sucedido se for inclusivo, seguro e centrado nas pessoas – não apenas nas tecnologias.

Nas próximas semanas, voltarei a este tema para explorar como as operadoras estão a preparar-se para os próximos dez anos, que prometem ser os mais disruptivos na história das telecomunicações. Até lá, fica a pergunta: estamos a construir o futuro ou apenas a correr atrás dele?

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