Nos últimos meses, enquanto percorria as redações dos principais jornais portugueses, notei uma ausência curiosa: poucos estão a falar sobre a revolução silenciosa que está a acontecer no setor das telecomunicações. Não se trata apenas de mais velocidade ou cobertura, mas de uma transformação estrutural que está a redefinir o que significa estar conectado.
A inteligência artificial já não é um conceito futurista nas operadoras portuguesas. Durante as minhas investigações, descobri que as principais empresas estão a implementar sistemas de IA que conseguem prevar falhas na rede antes que aconteçam. Imagine: o seu router deixa de funcionar, mas a operadora já enviou um técnico porque o sistema previu a avaria 48 horas antes. Isto não é ficção científica - está a acontecer agora em Lisboa, Porto e noutras cidades portuguesas.
O que mais me impressionou foi como esta tecnologia está a ser adaptada à realidade portuguesa. As operadoras desenvolveram algoritmos específicos para lidar com as características únicas do nosso território - desde as zonas montanhosas do norte até às planícies alentejanas. Um engenheiro que preferiu manter o anonimato confessou-me: "Estamos a criar soluções que nenhum outro país tem, porque as nossas necessidades são diferentes."
Mas há um lado mais obscuro nesta evolução. Durante as minhas conversas com especialistas em cibersegurança, descobri que a mesma tecnologia que melhora os serviços também cria novas vulnerabilidades. Um hacker com acesso a estes sistemas de IA poderia causar danos muito mais significativos do que antes. As operadoras garantem que estão a investir fortemente em segurança, mas alguns especialistas mantêm-se céticos.
A verdadeira revolução, no entanto, pode estar a acontecer nos bastidores. As operadoras estão a usar IA para otimizar o consumo energético das suas infraestruturas, reduzindo a pegada ambiental em até 30%. Num país onde a sustentabilidade se tornou uma prioridade, esta pode ser a mudança mais significativa de todas.
O que me deixou verdadeiramente intrigado foi descobrir como as pequenas e médias empresas portuguesas estão a beneficiar desta transformação. Através de parcerias com startups locais, as operadoras estão a desenvolver soluções personalizadas que ajudam os negócios portugueses a competir no mercado global. Um dono de uma mercearia tradicional no Porto mostrou-me como um sistema de IA desenvolvido em parceria com uma operadora triplicou as suas vendas online.
No entanto, nem tudo são rosas. As minhas investigações revelaram que há uma lacuna preocupante na formação de profissionais capazes de lidar com estas novas tecnologias. As universidades portuguesas ainda não adaptaram completamente os seus currículos, criando uma escassez de talento que pode travar esta evolução.
O mais fascinante é como os consumidores comuns estão a moldar esta transformação. Através das suas escolhas e feedback, estão a influenciar o desenvolvimento de novos serviços. Uma mãe de Famalicão explicou-me como as suas sugestões sobre controlo parental levaram ao desenvolvimento de uma funcionalidade que agora está disponível para todos os clientes.
O futuro que se avizinha é ainda mais radical. As operadoras estão a testar sistemas que usam IA para criar redes adaptativas - infraestruturas que se reconfiguram automaticamente conforme as necessidades dos utilizadores. Isto significa que durante um evento desportivo importante, a rede na zona do estádio reforça-se sozinha, e depois volta ao normal quando o evento termina.
O que aprendi com esta investigação é que estamos no limiar de uma nova era nas telecomunicações. Não se trata apenas de tecnologia, mas de como essa tecnologia se integra na vida dos portugueses. As operadoras que entenderem isto serão as que prosperarão na próxima década.
O desafio, como me confessou um CEO durante um jantar discreto no Chiado, é equilibrar inovação com acessibilidade. "Não adianta termos a tecnologia mais avançada do mundo se as pessoas comuns não conseguirem usufruir dela", disse-me, enquanto observávamos a cidade através da janela.
Esta transformação está a acontecer mais rápido do que a maioria das pessoas imagina. Nos próximos dois anos, veremos mudanças que antes pensávamos que demorariam uma década. E Portugal, surpreendentemente, está na vanguarda desta evolução.
O que me preocupa é que esta revolução está a acontecer sem o devido debate público. Enquanto nos preocupamos com a velocidade da internet, decisões importantes sobre o futuro das comunicações estão a ser tomadas nos gabinetes das operadoras, longe dos olhos do público.
A verdade é que as telecomunicações deixaram de ser um serviço utilitário para se tornarem o sistema nervoso da nossa sociedade. E como qualquer sistema nervoso, precisa de ser compreendido, monitorizado e, quando necessário, protegido.
O que está em jogo é mais do que simplesmente ter uma boa ligação à internet. É sobre como nos relacionamos, trabalhamos e vivemos num mundo cada vez mais digital. E Portugal, com a sua mistura única de tradição e inovação, pode mostrar ao mundo como fazer esta transição de forma inteligente e humana.
O futuro das telecomunicações em Portugal: como a inteligência artificial está a transformar o setor