Nos últimos anos, a presença da inteligência artificial tem-se afirmado como um dos pilares fundamentais na transformação da media em Portugal. Enquanto no passado éramos acostumados a redações fervilhantes de jornalistas munidos de blocos de notas e gravadores, hoje, a cena é drasticamente diferente, cortesia de sistemas avançados que não só ajudam na pesquisa, mas também na produção de conteúdo.
A inteligência artificial está a revolucionar a forma como o jornalismo é praticado, trazendo consigo novas oportunidades, bem como desafios inéditos. Desde o uso de algoritmos para recomendar notícias aos leitores, passando por assistentes que conseguem gerir tarefas administrativas, até redações em que bots são responsáveis por redigir artigos simples, a tecnologia está a mudar o jogo. Deste modo, a media está a tornar-se mais eficiente, mas também enfrenta o risco de desumanização.
Um dos exemplos mais notórios deste impacto pode ser observado nas redações mais modernas, onde o uso da IA já se tornou corriqueiro. A análise de dados em massa permite identificar padrões emergentes e prever interesses do público de maneira nunca antes vista. Isso possibilita uma personalização da experiência de leitura que outrora era impossível. No entanto, esta personalização levanta questões éticas e de privacidade, desafiando os princípios de imparcialidade que estão no cerne do jornalismo tradicional.
Contudo, o uso indiscriminado desta tecnologia tem gerado resistências. Muitos jornalistas temem que as suas funções possam ser substituídas, enquanto outros refletem sobre a erosão da qualidade de conteúdos gerados por máquinas. A automatização pode levar a uma produção em série de notícias que não considera nuances culturais e factores humanos, um risco que não deve ser subestimado.
O futuro da media portuguesa pode passar pela coexistência harmónica entre humanos e máquinas. Se bem utilizado, o potencial da inteligência artificial na mediação de informação e na criação de narrativas multimédia pode enriquecer o panorama jornalístico. Programas que verificam factos em tempo real, editores de vídeo automatizados e podcasts editados por IA são apenas a ponta do icebergue.
Chega, então, o momento para repensar o papel das plataformas jornalísticas. É vital que a ética e a responsabilidade social sejam mantidas como prioridades máximas. A formação contínua dos profissionais da comunicação é crucial para que estes saibam lidar com as novas ferramentas tecnológicas, usando-as a seu favor para inovar a maneira como as histórias são contadas.
Além disso, a colaboração entre diferentes áreas do saber nunca foi tão importante. Jornalistas, programadores, e especialistas em dados têm que trabalhar lado a lado para garantir que a ligação entre criador e consumidor da notícia não só se mantém saudável, como também se fortalece.
Paradoxalmente, a mesma tecnologia que ameaça a criatividade e a autoria tradicional torna-se uma ponte para novos formatos e formas de distribuição. Cabe a cada um dos agentes no ecossistema mediático a responsabilidade de equilibrar o uso da tecnologia com a manutenção do humanismo inerente ao jornalismo de qualidade.
Como tal, a discussão não deve centrar-se apenas sobre a inevitabilidade da inteligências artificial, mas sim sobre o 'como' e o 'quando' desta integração. Estamos numa encruzilhada onde neuromanticismo tecnológico pode impactar tanto positivamente como negativamente no tecido social. Fiquemos atentos.