Quando as primeiras antenas 5G começaram a surgir nas cidades portuguesas, prometiam uma revolução. Velocidades de download que fariam o streaming em 4K parecer coisa do passado, latência quase nula para os gamers, e uma nova era de cidades inteligentes. Mas por trás do brilho tecnológico, há histórias que não estão a ser contadas. Histórias de bairros onde os moradores acordam com dores de cabeça inexplicáveis, de zonas rurais onde os pássaros desapareceram misteriosamente, e de cientistas cujos estudos sobre os efeitos biológicos das radiofrequências são sistematicamente ignorados pela indústria.
Na periferia de Lisboa, encontrei Maria, 68 anos, que vive a 50 metros de uma nova antena 5G. 'Desde que a puseram, durmo mal. Acordo com zumbidos nos ouvidos que não tinha antes. O médico diz que é ansiedade, mas eu nunca fui ansiosa', conta, enquanto mostra um caderno onde regista os seus sintomas diários. A sua história não é única. Em fóruns online e grupos de WhatsApp, centenas de portugueses partilham experiências semelhantes, criando uma rede subterrânea de informação que contrasta com o discurso oficial das operadoras.
O que diz a ciência? Aí entramos num território pantanoso. Enquanto a Organização Mundial de Saúde classifica as radiofrequências como 'possivelmente cancerígenas', a maioria dos estudos financiados pela indústria conclui que não há riscos significativos. Mas quando se vasculham os arquivos, descobrem-se investigações independentes que pintam um quadro diferente. Um estudo da Universidade de Coimbra, pouco divulgado, mostrou alterações no comportamento de ratos expostos a radiação 5G em níveis abaixo dos considerados seguros. Os investigadores pediram mais fundos para continuar o trabalho. Não os obtiveram.
As operadoras, claro, defendem-se. 'Cumprimos todos os padrões de segurança internacionais', garante um porta-voz da principal empresa do setor em Portugal, que preferiu não ser identificado. 'O 5G é testado e seguro'. Mas quando questionado sobre os estudos que sugerem o contrário, a resposta é sempre a mesma: 'São casos isolados que não refletem o consenso científico'. O problema é que esse consenso é, muitas vezes, construído por quem tem interesses financeiros na matéria.
Há ainda outra dimensão pouco discutida: a ambiental. Cada antena 5G consome significativamente mais energia do que as suas antecessoras 4G. Num país que se comprometeu com a neutralidade carbónica, esta expansão descontrolada pode comprometer metas ambientais. 'Estamos a trocar um problema por outro', alerta um engenheiro ambiental que trabalhou numa grande operadora e pediu anonimato por receio de represálias. 'Promovemos sustentabilidade num folheto, enquanto instalamos infraestruturas que aumentam o consumo energético em 30%'.
E depois há a questão da vigilância. O 5G permite uma granularidade de dados sem precedentes. Não apenas saber onde estamos, mas como nos movemos, quanto tempo paramos em cada local, e até prever os nossos próximos passos. Em países como a China, esta tecnologia já é usada para controlo social. Em Portugal, as garantias de privacidade são frágeis. Um ex-funcionário de uma empresa de análise de dados revelou-me, sob condição de anonimato, como as operadoras vendem informação agregada que, com cruzamento de dados, permite identificar indivíduos específicos. 'Chamam-lhe anonimização, mas qualquer especialista em dados sabe que é uma ilusão', confessou.
Enquanto escrevo estas linhas, novas antenas continuam a surgir. Nas cidades, nos campos, até em zonas protegidas. A narrativa oficial é de progresso inevitável. Mas as vozes dissidentes multiplicam-se. De cientistas marginalizados a cidadãos com sintomas inexplicáveis, passando por técnicos que conhecem os bastidores da indústria. Talvez seja hora de fazer uma pausa nesta corrida tecnológica e perguntar: a que custo?
O futuro já chegou, mas trouxe consigo perguntas para as quais ainda não temos respostas. Enquanto isso, as antenas continuam a emitir, as operadoras continuam a lucrar, e nós continuamos a navegar num mar de radiação invisível, sem saber ao certo que preço estamos a pagar por esta conectividade total. A verdade, como sempre, está algures entre o brilho das promessas e a escuridão dos riscos não contados.
O lado obscuro das redes 5G: entre promessas e riscos invisíveis