Portugal e a transição energética: um olhar crítico sobre o futuro sustentável

Portugal e a transição energética: um olhar crítico sobre o futuro sustentável
Nos últimos anos, Portugal tem sido apontado como um exemplo na transição energética, movendo-se rapidamente das energias fósseis para as renováveis. Contudo, será que a realidade corresponde à perceção? Parece que, embora os avanços sejam significativos, existem desafios subjacentes que não são tão frequentemente discorridos nos meios de comunicação tradicionais.

A aposta em energias renováveis tem sido um mantra para muitos governos europeus e o português não é exceção. Desde a aposta na energia eólica, passando pela solar, as metas têm sido ambiciosas. Portugal, um país abençoado pelo sol e pelo vento, tem aproveitado estas condições naturais para aumentar a sua produção de energia limpa. Mas enquanto se celebram as conquistas, menos se fala das dificuldades que povoam este percurso.

Um dos principais entraves é o financiamento. As infraestruturas necessárias para suportar fontes de energia renovável requerem um investimento inicial elevado. A concretização destes projetos muitas vezes depende de apoios estatais e subvenções europeias que podem não ser constantes ou suficientes. Neste contexto, é crucial questionar: qual é o custo real desta transição para o bolso do consumidor final? E o que acontece com os trabalhadores das indústrias que estão a decair?

Outro ponto de discussão é o impacto ambiental dos próprios parques eólicos e solares. Por mais verdes que sejam as suas fontes de energia, a sua construção e manutenção têm um impacto ambiental e ecológico que precisa de ser ponderado. Zonas naturais e ecossistemas frágeis são, por vezes, sacrificados em nome deste progresso. Assim, surge a questão de até onde estamos dispostos a ir para favorecer a produção renovável em detrimento da conservação da biodiversidade.

Além disto, a capacidade de armazenamento e distribuição de energia renovável ainda não atingiu o potencial máximo. A intermitência da produção — ou seja, o facto de o sol não brilhar sempre e o vento nem sempre soprar — obriga a uma gestão de redes mais eficiênte e inovadora, algo que ainda está em desenvolvimento e que pode atrasar a independência total das energias fósseis.

Um dos exemplos mais emblemáticos e de sucesso, no entanto, é o da Central Solar de Alqueva, um projeto que não só aumenta a produção de energia limpa, mas também otimiza o uso da albufeira para o armazenamento de água. Este projeto consegue unir aplicabilidade ambiental e eficiência energética, mostrando que, quando bem executadas, as energias renováveis podem mesmo ser um trunfo.

Num panorama global, a transição energética de Portugal é muitas vezes descrita como sendo excecional, mas para que realmente se concretize de forma plena e sustentada, terá que haver um equilíbrio delicado entre ambição e realidade prática. É imperativo que as estratégias energéticas avancem, mas com um olhar crítico e responsável, que contemple as múltiplas dimensões que envolvem este complexo desafio.

À medida que o mundo avança para um futuro menos dependente do carbono, Portugal pode e deve aproveitar esta maré. Contudo, jamais deverá esquecer que o crescimento verde sustentável é um caminho de reflexão e ação ponderada, onde as tomadas de decisão devem sempre considerar os impactos sociais, ambientais e económicos.

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